Como já referi anteriormente, passeio frequentemente de manhã com o meu cão; subo e desço as colinas, entro na floresta e nas estradas de montanha. Nos últimos tempos, os meus passeios têm tido um peso acrescido. É a Quaresma, os 40 dias entre o Carnaval e a Páscoa. A tradição diz que, durante esses 40 dias, devemos renunciar a qualquer coisa que seja como um vício. Algumas pessoas renunciam ao café, outras ao chocolate ou aos cigarros. Eu decidi deixar de comer pão e bolos feitos com farinha de trigo branca. E é por esta razão que subir os 400 metros até à cidade é agora duplamente difícil: as padarias e pastelarias abrem as portas mesmo antes de eu e a Pandora sairmos de casa, por isso caminhamos até à cidade com o cheiro irresistível de bolos acabados de fazer a pairar sobre o centro da cidade, chamando o meu nome – que eu estou pacientemente (mais e menos) a ignorar.
Sintra é famosa pela sua pastelaria. Os pastéis de Piriquita, os Travesseiros, são famosos em todo o país, e as pessoas fazem fila para os comprar para levar para casa em caixas. Estes “travesseiros” compridos e açucarados são melhores ainda quentes, e são feitos na hora durante todo o dia. A parte exterior é uma casca folhada, o recheio interior é de gema de ovo, açúcar e amêndoa…. Claro que a receita é secreta, guardada a sete chaves, patenteada e vale uma fortuna. Há muitas imitações de pastelaria por aí, mas nenhuma tem uma combinação tão perfeita como a original da Piriquita. O café principal fica mesmo no meio do Centro Histórico, e está fechado às quartas-feiras – mas não se preocupe: abriram a ‘Piriquita 2’ um pouco mais à frente na rua para garantir que pode comprar o seu em qualquer dia da semana em que esteja em Sintra. Mas atenção – especialmente durante os fins-de-semana e durante as tardes de verão, as filas são longas (= cerca de meia hora).
As Queijadas de Sintra são outro dos famosos doces da região. São normalmente consumidos frios e duram muito tempo. Muito diferentes das queijadas americanas, estes bolos são pequenos e redondos, e não são feitos com queijo creme, mas sim com o queijo fresco tipo cottage sem sal da região e canela. Normalmente, compram-se os bolos para levar, embrulhados num tubo de papel, 6 numa embalagem. Há várias pastelarias que têm a sua própria receita: a pastelaria original do bolo de queijo, a SAPA junto à Câmara Municipal (já famosa pelos seus pastéis em meados de 1800), a Casa do Preto na entrada de Sintra por São Pedro, a Pastelaria Gregório na cidade e também a Piriquita. Todos estes locais têm as suas próprias receitas patenteadas e cafés agradáveis para visitar e experimentar as ‘guloseimas’.


Os Fofos de Belas são mais um famoso doce local. O pão de ló, do tamanho de um queque, é recheado com um creme e coberto com açúcar fino, fazendo com que cada dentada se derreta na boca. São cozidos num forno de lenha tradicional e também são uma tradição de uma padaria especial – e são ferozmente copiados.
Também vale a pena mencionar os Pasteis de Belém, ou Pasteis de Nata. Embora sejam originais de Lisboa, foram “copiados” com bastante sucesso pelas pastelarias de Sintra. Estas tartes em forma de taça são recheadas com um creme de ovos e natas, muitas vezes polvilhado com canela ou açúcar em pó. São óptimas tanto mornas como frias, são perfeitas para acompanhar uma chávena de café, sem serem demasiado doces. Não são atraentes, mas são muito saborosas!


E como se não bastasse a pastelaria, o pão desta região é divinal! Tradicionalmente confeccionado em fogão a lenha, as pessoas fazem fila diariamente para o pão fresco – e vale a pena! Carcaças pequenas, meios pães, pães inteiros, bem cozidos, ligeiramente cozidos, todos de farinha branca ou integral, ou meio a meio, ou mistura de trigo e centeio, ou centeio e milho, cozidos em água ou em leite……. Nunca vi tantas variedades de pão como em Portugal. E o pão português é mundialmente famoso. Até o padeiro local das Seychelles fez pão com uma receita portuguesa! E o pão é cozido e comprado diariamente – o pão do dia anterior é dado às galinhas e a outros animais da quinta.
Por isso, percebe-se porque é que é difícil para mim ignorar o cheiro dos bolos acabados de fazer, que se prolonga pelas ruas. E depois de os provar, pode acreditar que podem facilmente tornar-se um vício!